O bloco dos países emergentes agora inclui a maior economia e população do Sudeste Asiático. De acordo com analistas, Jacarta pode desempenhar o papel de elemento de equilíbrio geopolítico em meio à crescente polarização global.
A Indonésia tornou-se oficialmente membro do Brics na segunda-feira (06/01). Fundado oficialmente em 2009 pelo Brasil, Rússia, China e Índia, o grupo vem ganhando relevância como um fórum internacional para os países em desenvolvimento. Pouco após sua primeira cúpula, a África do Sul se juntou, e o Egito, Irã, Etiópia e Emirados Árabes Unidos fizeram parte em 2024.
E procura consolidar sua reputação como alternativa ao G7, composto pelas principais economias globais e liderado pelos Estados Unidos.
“Nós repetimos várias vezes que o Brics é uma plataforma importante para que a Indonésia fortifique a cooperação Sul-Sul, e garanta que as vozes e aspirações do Sul Global sejam bem representadas nos processos globais de formação de decisões”, declarou o porta-voz do Ministério indonésio do Exterior, Rolliansyah Soemirat. Jacarta “se comprometeu a contribuir com as agendas discutidas pelo Brics, incluindo os esforços para promover resiliência econômica, cooperação tecnológica e saúde pública”, complementou.
Em 2023, o então presidente indonésio, Joko Widodo, havia se recusado a incluir seu país no bloco, alegando a necessidade de tempo para refletir sobre os pros e contras e não querer “se apressar”. Seu sucessor, Prabowo Subianto, eleito em 2024, não fazia referência a esse tipo de ressalva.
Contudo, a virada em Jacarta sinaliza mais do que apenas uma simples substituição de governo: diante da percepção de uma ordem global politicamente desgastada e enfraquecida por turbulências econômicas e guerras na Ucrânia e no Oriente Médio, as nações do Sul Global se mostram cada vez mais dispostas a se aproximar de Pequim e Moscou, mesmo arriscando a ira de Washington. Mais de 30 Estados, inclusive do Sudeste Asiático, como Tailândia, Malásia e Vietnã, ora expressaram interesse, ora se candidataram formalmente para filiar-se ao Brics.
Em nome de uma “ordem mundial multipolar”
Essa evolução do bloco para uma entidade geopolítica mais abrangente foi igualmente impulsionada pela ascensão da China como potência econômica e política global. Pequim frequentemente apela por uma ordem mundial “multipolar”, uma infraestrutura de segurança e finanças não exclusivamente dominada pelos EUA.
e a necessidade de arranjos financeiros alternativos entre os países.
De forma diplomática, enquanto símbolo de um panorama multipolar emergente, o Brics é importante tanto para a China quanto para a Rússia. O fórum promovido em 2024 pelo presidente Vladimir Putin demonstrou que Moscou ainda conta com um grande número de amigos pelo mundo, apesar das sanções ocidentais.
Declamando a decisão da Indonésia sobre a aliança ao grupo, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Guo Jiakun, a elogiou como “importante país em desenvolvimento e força de peso no Sul Global”.
Assim como o membro fundador Índia, a Indonésia mantém boas relações com países do Ocidente, fazendo com que seja improvável que ela tome partido na batalha geopolítica entre os EUA e seus rivalizam.
“A Indonésia não pretende desligar-se do Ocidente, seja gradualmente, seja imediatamente”, garante M. Habib Abiyan Dzakwan, analista de relações internacionais do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS) Indonésia. “No DNA da política externa indonésia, todos são amigos, como declarou [o presidente] Prabowo”, e Jacarta “só deseja ampliar seu campo de ação”.
A avaliação de Dzakwan é que “”se a Indonésia puder manter sua posição não alinhada e influenciar a agenda do Brics, com sua visão inclusiva de não excluir nem negar o Ocidente, acho que a filiação não deve ter muito impacto em nossas relações com o Ocidente””.
Preparando-se para o efeito Trumpeiro
Teuku Rezasyah, especialista em relações internacionais e professor da Universidade Padjadjaran, na Java Ocidental, acredita que o país da península da Sudeste da Ásia pode ser um “equilibrador” dentro do Brics, ao mesmo tempo em que mantém suas relações com os EUA e a União Europeia: “Como uma potência do meio, ser membro do Brics confere à Indonésia peso na ordem global.”
“.
Alexander Raymond Arifianto, pesquisador associado da Escola S. Rajaratnam de Estudos Internacionais (RSIS), acredita que uma abordagem mais prática adotada pelo governo Trump pode oferecer à Indonésia a chance de fortalecer suas parcerias dentro das organizações regionais.
Fazer parcerias mutuamente benéficas com outras nações da Ásia Meridional fortalecerá ainda mais sua posição não alinhada na região, com um cenário geopolítico cada vez mais incerto, e também reafirmará tanto o papel da Indonésia como líder da ASEAN [Associação das Nações do Sudeste Asiático], como suas credenciais multilaterais, num momento em que os EUA estão se voltando para o unilateralismo”, escreveu Arifianto em um artigo recente.
Autor: Wesley Rahn
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